10 agosto 2011

Hoteis.com: turismo online no Brasil só atingirá ápice depois da Copa e Olimpíada

Hoteis.com: turismo online no Brasil só atingirá ápice depois da Copa e Olimpíada

Promover a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos em dois anos deveria garantir ao Brasil a maturidade do setor turístico, certo? Não, se você considerar os serviços contratados pela internet. Reservas de hotéis e carros ou compras de pacotes turísticos online só deverão se popularizar anos após o Brasil receber ambas as competições.
A tese é de David Roche, presidente mundial da Hoteis.com, serviço de reserva de hotéis do conglomerado de turismo online Expedia, em visita a São Paulo em julho. Irlandês com sorriso franco e um linguajar bastante informal, David defende que o comércio eletrônico no Brasil, mesmo que tenha amadurecido com a estabilidade econômica, ainda não é grande o suficiente para englobar produtos mais caros, como costumam ser ofertas turísticas.
No caminho até a maturidade, o setor vai colhendo os frutos da crescente popularidade de sites de turismo no Brasil.
Nos dois últimos anos, o número de brasileiros que consumiu informações ou comprou pacotes turísticos online cresceu 77%, segundo o Ibope Nielsen Online – de 13,3 milhões de brasileiros em junho de 2009 para 23,6 milhões em junho deste ano. Foi o maior crescimento entre as categorias medidas pelo instituto.
Para testar os mercados locais, é prática da Expedia introduzir primeiro o Hoteis.com, para depois trazer a agência de reservas completa. Neste teste, o Brasil passou com louvor.
Nos próximos dois anos, o Brasil terá receita além do US$ 1 bilhão, o que torna a operação nacional uma das cinco mais lucrativas do mundo, entre 75 países onde a Hoteis.com atua. Não há China, Índia ou qualquer outro país em desenvolvimento que traga mais dólares para a empresa que o Brasil.
Pelos resultados atingidos, a operação nacional da Expedia é “questão de tempo”, diz David. E a gigante não encontrará um mercado tranqüilo: a concorrênca com o brasileiro ViajaNet e o argentino Decolar.com deverá intensificar a briga pelo turismo online no Brasil. Leia a íntegra da entrevista abaixo.

Qual o papel do Brasil na estratégia da Hoteis.com comparado a outros países em desenvolvimento como Índia e China?
Diria que os números do Brasil.com são muito mais atraentes. Uma das razões é sua proximidade em diferentes sentidos. Fora algumas cidades costeiras como Pequim, Shangai e Shenzhen, a China é pobre. O PIB per capita é muito baixo. O Brasil não se parece nem um pouco com isto. Tem mais clientes e mais dinheiro (na comparação relativa). Há também uma distância cultural menor com os EUA, enquanto a diferença é gigante com a China. Isso facilita as coisas para gente.
Quanto do faturamento na América Latina vem daqui?
Mais da metade. O Brasil é maior que o resto dos países e está crescendo muito rápido. Mas esta situação pode mudar muito rápido, já que ainda estamos no estágio inicial de evolução. O setor de reservas online não atingirá sua maturidade nos próximos sete ou oito anos na América Latina.
Mesmo depois da Copa do Mundo e da Olimpíada?
Ambos os eventos mudarão o cenário da indústria de turismo no Brasil, mas a indústria de turismo na internet definitivamente não estará totalmente madura só por isto. Ainda que as reservas online venham crescendo em ritmo muito maior (que o padrão), elas não chegarão à metade (do mercado total) nos próximos cinco anos.
O que falta ao Brasil para atingir esta maturidade?
Se você olhar às condições nas quais o e-commerce evoluiu no EUA, Escandinávia, Japão e Coréia, descobrirá que eles adotaram a internet logo no seu início. Há uma confiança implícita na internet. No Brasil, cartões de crédito não são tão populares como nos EUA. A internet não foi inventada aqui, então as pessoas ainda estão aprendendo a confiar.
Mas este é um problema geral para o e-commerce no Brasil, não só de turismo.
Sim, mas o que o torna particularmente verdadeiro para o turismo é que viagens são caras. É uma coisa comprar um livro por US$ 15 e outra gastar US$ 600 na Hoteis.com. Em vários mercados é comum que os limites do cartão de crédito caiam mais ou menos no valor destas viagens. Se você já comprou algo no cartão antes, não pode fazer reservas.


Já não faz sentido trazer a Expedia ao Brasil?
Provavelmente sim. É uma questão de tempo. É menos fácil trazer negócios onde o ar (passagens aéreas) é um componente-chave. O ar é altamente regulamentado e ter acesso ao inventário (de passagens) pode tomar muito tempo. Como efeito, esse acesso retarda a chegada de estrangeiros e beneficia empreendedores locais.
No Brasil, seus principais rivais são regionais – a ViajaNet e a Decolar.com. Isto é uma desvantagem para a Hoteis.com?
Não estou preocupado com isto. No nosso setor, existem poucos exemplos em que apenas um player dominou todo o mercado. O turismo é uma indústria de trilhões de dólares com diversas empresas. Temos muitos planos para a América Latina e o Brasil terá o maior foco que qualquer outro mercado do mundo. Esses caras são rivais significativos e outros vão aparecer também.
Que adaptações a Hoteis.com teve que promover para vender seu serviço fora dos países desenvolvidos?
Descobrimos que, em países em desenvolvimento, não existem muitos estabelecimentos que se encaixam na descrição de “hotel”. Na Rússia, dependendo de como você conta, são 150 milhões de pessoas, mas existem apenas 200 mil hotéis. É (um mercado) minúsculo. Há países menores na Europa com até quatro vezes mais hotéis. Isto é algo que acontecerá nos próximos anos: o setor hoteleiro se tornará menos informal, mais profissional e terá mais hotéis.
No Brasil particularmente, existe uma camada intermediária inexistente,composta por hotéis de 2 ou 3 estrelas, que têm marcas padronizadas e são usados normalmente por profissionais viajando. Você sabe o que vai encontrar quando se hospeda lá, como o Íbis. Uma das perguntas para o Brasil é: serão companhias nacionais que abrirão e gerenciarão estes novos hotéis, ou isto será feito por redes estrangeiras, como a Accor? Não sei a resposta.
O que é mais benéfico: brasileiros ou estrangeiros operando estas redes?
É levemente melhor para gente se forem brasileiros. Somos intermediários e nos damos melhor em mercado fragmentados. Mas daí as empresas brasileiras tomam o mundo e nós voltamos ao nosso problema original (risos).
Como este aumento na profissionalização do setor hoteleiro atingirá o forte mercado de pacotes no Brasil?
Com a popularização da internet e o aumento na renda média da população, os pacotes se tornam menos importantes. Ficaria terrivelmente surpreso se descobrisse que, nos próximos dez anos, as viagens por pacote não caiam para metade ou até um terço do que são hoje. Eles se dissolverão por diferentes razões: primeiro, o dinheiro destinado a viagens vai crescer e a limitação de se viajar apenas para lugares onde há pacotes desaparecerá.
Segundo, a combinação de companhias aéreas baratas e serviços como Hoteis.com significa que clientes podem aproveitar as economias para voar e ter escolha para se hospedar. Este modelo é poderoso contra pacotes. Na Europa, você observa consolidação no mercado de pacotes e não é algo motivado pela força, mas pela fraqueza. Estas companhias estão consolidando para que sobrevivem.

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